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11 de nov. de 2011

A Matemática no Brasil


Vice-presidente da SBM fala a Veja sobre a Matemática no Brasil

O Brasil acumula alguns tristes índices de educação, especialmente na área de matemática. Os números provam isso: apenas 11% dos alunos do ensino médio concluem esse ciclo sabendo o que deveriam, de acordo com dados do movimento Todos Pela Educação. A mais recente medição apontou que o problema começa nas séries iniciais. Segundo a Prova ABC, ao fim do terceiro ano do ensino fundamental, metade das crianças não domina operações simples de soma e subtração. No Pisa, avaliação internacional aplicada pela OCDE, os alunos brasileiros estão 241 pontos atrás dos chineses, líderes do ranking, em matemática. Para Marcelo Viana, vice-presidente da Sociedade Brasileira da Matemática (SBM), o problema é provocado principalmente pela distância – no tempo e no espaço – entre a teoria abstrata que chega à sala de aula e o mundo concreto que se vê fora da escola. "No processo de transmissão desse conhecimento pela escola, os professores optam por apresentar a disciplina de maneira abstrata, ao invés de conectá-la à realidade", diz Viana. Atualizar a matemática das escolas e aproximá-la da realidade não implica simplificação, ressalva o matemático. Basta encontrar a maneira correta de fazê-lo. "É possível explicar tudo isso a qualquer estudante." Viana conversou com nossa reportagem sobre o desafio da matemática para a série de reportagens de VEJA sobre o impacto da educação e do ensino das ciências no desenvolvimento do país. Confira a seguir a entrevista.

Por que ensinar matemática é um desafio tão grande?

A matemática é um conjunto de conhecimentos abstratos que encontram uma correspondência com o mundo concreto. Porém, no processo de transmissão desse conhecimento pela escola, os professores optam por apresentar a disciplina de maneira abstrata, ao invés de conectá-la à realidade. O modo correto de fazer com que o estudante aprecie esse conhecimento não é começar pela teoria, mas, sim, relacionando o ensinamento com o cotidiano. Só então, chega-se à abstração, que é natural da matemática.

Alguns especialistas dizem essa dificuldade de aproximar teoria e prática é devida ao fato de o ensino da matemática estar parado no tempo. O senhor concorda?

Esse é um dos fatores. Leva-se muito tempo para incorporar as inovações da matemática nos currículos escolares. Isso é, na verdade, um problema antigo. No início do século XX, houve um esforço muito grande para que fossem incorporadas as inovações do século XIX. Agora, os especialistas estão empenhados em esforço similar, ou seja, de incorporar nos currículos do século XXI as transformações do século XX. As tecnologias, os novos programas, a internet – tudo isso transformou a matemática. O Google só foi possível com a matemática do século XX.

O senhor pode dar exemplos das transformações do século XX que precisam ser incorporadas?

Sim. A matemática discreta, por exemplo, por meio da qual medimos objetos muito grandes mas finitos e que é muito utilizada na ciência da computação. Outro ponto é a teoria do caos, que tem inúmeras aplicações para resolver problemas de grande complexidade em uma velocidade grande. Existem também os algoritmos, que são regras criadas para resolver problemas complexos, como se quiséssemos organizar por ordem alfabética os nomes dos 200 milhões de brasileiros.

É possível ensinar esse tipo de conteúdo para alunos da educação básica?

Com certeza. Algumas áreas são técnicas e exigem pré-requisitos elaborados. Mas existem muitos aspectos elementares desses conteúdos – digo elementares não por serem fáceis, mas por exigirem poucos pré-requisitos. É possível explicar tudo isso a qualquer estudante.

Para isso é preciso professores capacitados, correto? Sim. A dificuldade atualmente é a capacitação do professor, que é hoje um dos grandes gargalos da educação. A capacitação inicial e continuada desse profissional ainda é muito frágil.

Como fica nosso futuro científico se falharmos na missão de aproximar a matemática das crianças e dos jovens?

O Brasil conseguiu nas últimas décadas a façanha de construir um sistema científico sem ter uma educação razoável. Nossa ciência atingiu um patamar louvável para um país sem estrutura científica. Mas não é possível seguir dessa maneira. Precisamos dar um salto quantitativo e qualitativo para nos aproximar dos países mais desenvolvidos do mundo. A única forma de conseguir isso é universalizando o acesso à ciência, permitindo que ela chegue a todos e que todos possam se apaixonar e se dedicar a ela.

Como fazer isso?

É preciso inclusão. Temos boas escolas nos país. Nossos melhores alunos são comparáveis aos melhores alunos dos melhores países. Em competições internacionais, ganhamos diversas medalhas em matemática, física e robótica, por exemplo. O problema é que nosso nível médio é ruim. Nossos alunos medianos são ruins. É esse o grande problema da educação.

O país está disposto a fazer esse investimento em ciência?

É o futuro do país que está em jogo. Se não investirmos nisso agora, não investiremos nunca mais. Está provado que é possível fazer essa revolução investindo em educação e democratização científica. A Noruega era um país em desenvolvimento até pouco tempo atrás. Graças ao investimento em educação, é uma grande nação. A Finlândia era um país em que os moradores migravam porque não havia oportunidade. Hoje, é referência em diversos campos. O Japão, idem. A China está se transformando e está investindo em ciência. Ela, um país continental como o nosso, mostra que é possível fazer isso em grande escala. Todos esses países se transformaram porque investiram.

4 de nov. de 2011

Rede capitalista

Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo

                 Este gráfico mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma.

Além das ideologias
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial

Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
  1. Barclays plc
  2. Capital Group Companies Inc
  3. FMR Corporation
  4. AXA
  5. State Street Corporation
  6. JP Morgan Chase & Co
  7. Legal & General Group plc
  8. Vanguard Group Inc
  9. UBS AG
  10. Merrill Lynch & Co Inc
  11. Wellington Management Co LLP
  12. Deutsche Bank AG
  13. Franklin Resources Inc
  14. Credit Suisse Group
  15. Walton Enterprises LLC
  16. Bank of New York Mellon Corp
  17. Natixis
  18. Goldman Sachs Group Inc
  19. T Rowe Price Group Inc
  20. Legg Mason Inc
  21. Morgan Stanley
  22. Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
  23. Northern Trust Corporation
  24. Société Générale
  25. Bank of America Corporation
  26. Lloyds TSB Group plc
  27. Invesco plc
  28. Allianz SE 29. TIAA
  29. Old Mutual Public Limited Company
  30. Aviva plc
  31. Schroders plc
  32. Dodge & Cox
  33. Lehman Brothers Holdings Inc*
  34. Sun Life Financial Inc
  35. Standard Life plc
  36. CNCE
  37. Nomura Holdings Inc
  38. The Depository Trust Company
  39. Massachusetts Mutual Life Insurance
  40. ING Groep NV
  41. Brandes Investment Partners LP
  42. Unicredito Italiano SPA
  43. Deposit Insurance Corporation of Japan
  44. Vereniging Aegon
  45. BNP Paribas
  46. Affiliated Managers Group Inc
  47. Resona Holdings Inc
  48. Capital Group International Inc
  49. China Petrochemical Group Company

Bibliografia:
The network of global corporate control
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston
arXiv
19 Sep 2011
http://arxiv.org/abs/1107.5728

 

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